quinta-feira, 15 de maio de 2014

Medicina renascentista

O Renascimento foi um grande período de crescimento intelectual e desenvolvimento artístico na Europa. Como parte dele, os cientistas e pensadores começaram a se descolar das visões tradicionais que regiam a medicina, tanto no oriente quanto no ocidente. O foco dos tratamentos deixou de ser um equilíbrio natural de ordem divina. O conhecimento avançou através do método científico — pela condução de experimentos, coleta de observações, conclusões. As informações eram disseminadas por meio de uma importante nova tecnologia — a impressão. As raízes da medicina científica estavam estabelecidas.
Em 1543 Andreas Vesalius (1514-64), professor da Universidade de Pádua, publicou um texto ricamente ilustrado sobre anatomia. Com conhecimentos baseados na extensiva dissecação de cadáveres humanos, ele apresentou a primeira descrição amplamente precisa do corpo humano. Anatomistas posteriores em Pádua incluíram Gabriele Falloppio (1523-62), que descreveu os órgãos reprodutores femininos, dando seu nome às tubas de Falópio, e Girolamo Fabrizio (1537-1619), que identificou as válvulas do coração.
A cirurgia era praticada principalmente por barbeiros, que usavam as mesmas ferramentas para as duas profissões. A cirurgia ainda era um negócio bastante primitivo e extremamente doloroso essa época. A controvérsia continuava em relação ao tratamento de ferimentos — o pus era bom ou ruim? A cauterização, ou queima de um ferimento para fechá-lo, continuou sendo a principal forma de deter hemorragias. A maioria dos cirurgiões adquiriu suas habilidades no campo de batalha, e a introdução de pólvora, armas e canhões tornou o local muito mais desorganizado.
Um cirurgião francês do século XVI, Ambroise Paré (c. 1510-90), começou a colocar um pouco de ordem. Ele traduziu parte do trabalho de Vesalius para o francês a fim de disponibilizar os novos conhecimentos anatômicos para cirurgiões de campos de batalha. Com sua própria e extensa experiência em campos de batalha, ele suturava ferimentos para fechá-los em vez de usar a cauterização para deter o sangramento durante amputações. Ele substituiu o óleo fervente usado para cauterizar ferimentos de armas de fogo por um unguento feito de gema de ovo, óleo de rosas e terebintina. Seus tratamentos não só eram mais eficazes como também muito mais humanos que os utilizados anteriormente.
Outro importante nome dessa época foi Paracelso (1493-1541), alquimista e médico suíço. Ele acreditava que doenças específicas eram causadas por agentes externos específicos e, portanto, exigiam remédios específicos. Ele foi o pioneiro no uso de remédios químicos e minerais, incluindo mercúrio para o tratamento da sífilis. Ele também escreveu aquele que provavelmente é o trabalho mais antigo sobre medicina ocupacional, Sobre os Enjoos dos Mineradores e Outras Doenças de Mineradores(1567), publicado alguns anos depois de sua morte.
A sífilis foi registrada pela primeira vez na Europa em 1494, quando uma epidemia irrompeu entre as tropas francesas que estavam sitiando Nápoles. O fato de o exército francês incluir mercenários espanhóis que haviam participado das expedições de Cristóvão Colombo ao Novo Mundo deu origem à teoria de que a doença era proveniente do continente americano. Se isso for verdade — e o tema continua sendo o centro de calorosas controvérsias — então foi parte de um intercâmbio em que os nativos americanos se deram muito pior. As doenças que os europeus introduziram no hemisfério ocidental incluíram varíola, gripe, sarampo e tifo, que levaram as populações nativas à quase extinção.
Um médico italiano chamado Girolamo Fracastoro (c. 1478-1553) cunhou o nome sífilis, que também era chamada de doença francesa. Ele também propôs uma teoria, adaptada das ideias clássicas, de que doenças contagiosas podem ser espalhadas por minúsculas “sementes ou esporos de doença” capazes de percorrer grandes distâncias (no entanto, ele sabia que a sífilis era transmitida por contato pessoal). Essa teoria foi influente por vários séculos.
Durante o Renascimento, as sementes da mudança foram semeadas na ciência. O conhecimento médico deu grandes saltos durante os dois séculos seguintes.
Durante os séculos XVII e XVIII, o conhecimento médico e científico avançou a passos extraordinários. Muitas das concepções equivocadas de Galen foram finalmente derrubadas. O inglês William Harvey (1578-1657) descreveu com precisão a circulação do sangue no corpo, confirmando os achados de estudiosos anteriores (como Ibn Nafis e europeus mais recentes). Ele acrescentou o achado experimental crítico de que o sangue é “bombeado” para todo o corpo pelo coração.
O trabalho de Harvey foi continuado por outros, incluindo o médico inglês Richard Lower (1631-91). Ele e o filósofo britânico Robert Hooke (1635-1703) conduziram experimentos que mostravam que o sangue pega alguma coisa durante sua passagem pelos pulmões, mudando sua cor para vermelho vivo. [No século XVIII o químico francês Antoine Lavoisier (1743-1794) descobriu o oxigênio. Só então a fisiologia da respiração foi totalmente compreendida.] Lower também realizou as primeiras transfusões de sangue, de animal para animal e de humano a humano. Hooke e, sobretudo, o biólogo holandês Anton van Leeuwenhoek (1632-1723) usaram um novo aparelho chamado microscópio para descobrir toda a matéria de coisas minúsculas (“microscópicas”): glóbulos vermelhos, bactérias e protozoários. Na Itália, o fisiologista Marcello Malpighi (1628-1694) usou o microscópio para estudar a estrutura do fígado, da pele, dos pulmões, do baço, das glândulas e do cérebro. Várias partes microscópicas do corpo, incluindo uma camada de pele e partes do baço e do rim, receberam nomes em sua homenagem. Malpighi também incentivou a ciência da embriologia com seus estudos em ovos de galinha. Como sempre, houve erros e concepções errôneas. Outro holandês, o médico Nicolaas Hartsoeker (1656-1725), pensou que o microscópio revelava pequenos homens (“homúnculos”) dentro dos espermatozóides no sêmen; assim ele explicou a concepção.
O século XVIII, conhecido como Iluminismo, foi uma era de progresso em vários aspectos. Contudo, o mais interessante é que o desejo de encontrar uma única e abrangente explicação para “a vida, o universo e todas as coisas” não havia desaparecido. Agora, alguns pensadores atribuíam o funcionamento do corpo às leis recém-descobertas da física, ao passo que outros olhavam para as leis da química. Uma abordagem chamada vitalismo propôs a existência de uma anima, ou alma sensível, que regulava o corpo. Outra abordagem encarava as doenças como uma ruptura no tônus do corpo, que, por sua vez, era controlado pelo “éter nervoso” do cérebro.
Explicações simples algumas vezes levaram a tratamentos perigosamente simples. Um médico escocês do século XVIII chamado John Brown (1735–88) decidiu que todas as doenças eram causadas por estimulação excessiva ou deficiente. Portanto, ele prescrevia doses altíssimas de sedativos e estimulantes, causando grandes danos e muita polêmica. A homeopatia, outra filosofia médica abrangente, surgiu mais ou menos na mesma época. Ela afirma que os sintomas de um paciente devem ser tratados com drogas que produzem os mesmos sintomas. As drogas são administradas em quantidades minúsculas, e, portanto, são inofensivas. Embora a abordagem de Brown tenha desaparecido, a homeopatia ainda tem seguidores fervorosos.
Contudo, a ciência médica estava se desenvolvendo rapidamente. Ao anatomista italiano Giovanni Morgagni (1682-1771) foi atribuída a fundação da disciplina de anatomia patológica. Ele demonstrou que doenças específicas estavam localizadas em órgãos específicos. Marie-François Bichat (1771-1802), fisiologista francês, percebeu que as doenças atacavam tecidos, e não órgãos inteiros.
Alguns dos avanços foram no diagnóstico. O inglês Thomas Willis (1621-75) analisou a urina e notou a presença de açúcar na urina de diabéticos. O professor holandês Hermann Boerhaave (1668-1738) começou a usar o termômetro para observar mudanças na temperatura do corpo na prática clínica (a ele também é atribuído o estabelecimento do estilo moderno de ensino clínico na Universidade de Leiden.) O médico austríaco Leopold Auenbrugger (1722-1809) observou a importância de dar tapinhas no peito para detectar fluidos nos pulmões. O francês René-Théophile-Marie-Hyacinthe Laënnec (1781-1826) tornou o processo mais fácil, inventando o estetoscópio. O instrumento, que possibilitou ouvir os órgãos internos, foi a invenção diagnóstica mais importante até que Wilhelm Roentgen descobriu os raios X em 1895. O estetoscópio de Laënnec era um tubo de madeira, semelhante a um dos primeiros modelos de aparelho auditivo. O familiar instrumento moderno com corpo de borracha e dois auriculares foi inventando mais tarde, pelo americano George Camman, em 1852.
Os avanços na terapêutica foram importantes. Thomas Sydenham (1624-89), médico inglês, defendia o uso de casca de cinchona, que continha quinina, para o tratamento da malária. Ele também enfatizou a observação sobre a teoria, reforçando também a importância dos fatores ambientais para a saúde. Um cirurgião naval inglês chamado James Lind (1716-94) provou que as frutas cítricas curam o escorbuto, uma desagradável doença causada pela carência de vitamina C que afetava as tripulações de navios em viagens longas. William Withering (1741-99), botânico e médico da Inglaterra, observou a eficácia de digitalis (da planta dedaleira) no tratamento de distúrbios cardíacos. E um médico britânico, Edward Jenner (1749-1823), desenvolveu a vacina contra a varíola. A vacinação foi tão eficaz que essa doença epidêmica encontra-se atualmente erradicada no mundo todo.
Ainda assim, poucos destes e outros avanços no conhecimento científico e na tecnologia afetaram a prática clínica cotidiana na época. Os principais tratamentos continuaram a ser o "cupping", a sangria e a purgação. Como recomendado por Paracelso e outros, a sífilis e outras doenças venéreas foram tratadas com doses altas, normalmente fatais, de mercúrio. A teriaga, a famosa receita multi-propósito de Galen, continuou popular. Ainda havia uma lacuna imensa entre a medicina acadêmica e a prática clínica cotidiana. Muitos dos clínicos e seus pacientes simplesmente relutavam em adotar as novas idéias. William Harvey fez uma famosa queixa de que perdeu pacientes após publicar seus achados sobre a circulação do sangue.
Todos os novos conhecimentos ainda não tinham mudado a prática médica. Tais mudanças vieram no próximo século.
Fonte(s): http://www.planetseed.com/pt-br/relatedarticle/ascensao-da-medicina-cientifica-o-renascimento

http://www.planetseed.com/pt-br/relatedarticle/ascensao-da-medicina-cientifica-revolucao-cientifica
                                                       Obrigada!
                                                    Postado às 17:34
                                                 Postado por: Júlia (integrante do grupo)

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